domingo, 10 de novembro de 2013

Quem é a mulher que é o anjo da guarda de Edward Snowden.

                                                                      Sarah Harrison

Publicado originalmente na DW.

A vida não anda fácil para delatores que divulgam segredos de Estado. Julian Assange, por exemplo, já está há um ano parado na embaixada do Equador em Londres, a qual não pode deixar por temer ser preso pelas autoridades britânicas e extraditado para a Suécia, onde é investigado por abuso sexual.
Ir para a Suécia nem é o pior. Assange teme que, de lá, seja extraditado para os Estados Unidos, onde certamente iria a julgamento por vazar informações sigilosas na sua plataforma Wikileaks.
Já Edward Snowden, o delator de segredos da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA, está sob constante vigilância em Moscou, depois de receber asilo temporário na Rússia.
Ao menos por enquanto, Snowden conseguiu evitar um destino semelhante ao de Chelsea (antes conhecida como Bradley) Manning, que foi acusada de espionagem e condenada, em junho passado, a 35 anos de prisão por divulgar mais de 250 mil documentos diplomáticos americanos.
Se Snowden está numa situação melhor, isso se deve em grande parte à ajuda que ele recebeu da jornalista britânica Sarah Harrison, uma colaboradora do Wikileaks. Ela foi fundamental para que o ex-consultor da NSA escapasse dos longos braços do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Depois de assistir um dos maiores inimigos públicos do governo americano, Harrison se refugiou em Berlim, relutante em voltar a sua Inglaterra natal por temer ser detida pelas autoridades locais, com base na legislação britânica antiterrorismo.
Nesta quarta-feira (06/11), ela publicou uma carta pedindo que os delatores sejam protegidos de perseguição, afirmando que divulgar a verdade não é crime.
“O Wikileaks continua sua luta para proteger suas fontes”, escreveu Harrison. “Ganhamos uma batalha em relação ao futuro imediato de Snowden, mas a guerra continua.”
“Snowden está seguro e protegido”
Quando Snowden fugiu para Hong Kong, depois de vazar documentos da NSA para os jornalistas Laura Poitras e Glenn Greenwald, Harrison viajou para a China em nome do Wikileaks para garantir a segurança do delator e impedir a extradição dele para os Estados Unidos.
Embora não tenha formação jurídica, ela ganhou experiência em questões de extradição com o caso Assange, com quem trabalhou e – especulam alguns jornais – teria tido um romance.
“Tenho certeza que se Julian não estivesse impossibilitado de sair da embaixada em Londres, ele adoraria ter feito o mesmo”, disse Jeremie Zimmermann à DW, referindo-se ao bem-sucedido pedido de asilo de Snowden na Rússia.
Zimmermann é porta-voz e co-fundador do grupo de direitos digitais La Quadrature du Net, com sede na França. Assim como Harrison, ele contribuiu para o livro Cyberpunks – Liberdade e o Futuro da Internet, de Assange, lançado em 2012.
“Depois de Assange, Sarah é a pessoa mais competente. Ela é uma jornalista e pesquisadora brilhante e uma pessoa brilhante de modo geral”, disse Zimmermann.
Embora Harrison não tenha explicado exatamente por que deixou a Rússia, ela escreveu que a missão de garantir a segurança de Snowden estava encerrada.
“Snowden está seguro e protegido até que seu visto de asilo tenha que ser renovado, daqui a nove meses. Enquanto isso, ainda há muito trabalho a ser feito”, afirmou. “A batalha a que Snowden se uniu, contra o Estado de vigilância e a favor de um governo transparente, é a mesma que o Wikileaks – e muitos outros – lutam e continuarão lutando.”

                                                              Na coletiva de Snowden
Exílio em Berlim
Harrison se uniu a uma crescente colônia de defensores da transparência exilados em Berlim. Poitras, que escreveu sobre informações vazadas por Snowden para o jornal Washington Post e a revista Der Spiegel, e o hacker e colaborador do Wikileaks Jacob Appelbaum também vivem na capital alemã.
“Nos poucos dias que já passei na Alemanha, é gratificante ver as pessoas se reunindo e pedindo que seu governo faça o que tem que ser feito – investigar as descobertas de espionagem da NSA e oferecer asilo para Edward Snowden”, escreveu Harrison em sua carta.
Os protestos na Alemanha se intensificaram nos últimos dias. Há algumas semanas, foi divulgado que a NSA coletou metadados de milhões de alemães. Depois surgiram revelações de que o telefone da chanceler federal Angela Merkel foi monitorado.
“Berlim parece ser o lugar certo se considerarmos o caráter vibrante que o debate público tem aqui, e estou me referindo às duas últimas capas da Der Spiegel, que trataram seriamente do assunto”, afirmou Zimmermann. Em uma recente edição, a revista semanal publicou um artigo baseado nas informações divulgadas por Snowden, detalhando o possível monitoramento da NSA no celular de Merkel. A publicação também pediu que fosse concedido asilo a Snowden.
Medo da legislação britânica antiterrorismo
Harrison tem em torno de 30 anos e é filha de uma família de classe média inglesa. O pai dela é um ex-executivo de uma rede de lojas de roupas e a mãe trabalha com crianças que apresentam dificuldades de aprendizado. Depois de estudar literatura inglesa, Harrison trabalhou como gerente internacional de eventos, mas decidiu seguir carreira no jornalismo.
Harrison foi aceita para um estágio na ONG Centro para Jornalismo Investigativo (CIJ) de Londres em 2009, o que um ano depois garantiu a ela um emprego de pesquisadora júnior no Bureau of Investigative Journalism, uma iniciativa sem fins lucrativos criada por jornalistas do Reino Unido. Lá entrou em contato com Assange e mais tarde foi trabalhar no Wikileaks como pesquisadora.
Seguindo o conselho de assessores jurídicos, Harrison decidiu permanecer na Alemanha, com medo de ser detida em seu país natal por causa da legislação antiterrorismo. Em agosto, o namorado de Glenn Greenwald, o brasileiro David Miranda, foi detido por nove horas no aeroporto de Heathrow em Londres, sob a mesma alegação. Miranda estava em Berlim e fez escala em Londres a caminho do Rio de Janeiro, onde vive com Greenwald. O brasileiro transportava informações entre o jornalista doGuardian e Poitras.
Sob a legislação antiterrorismo, a polícia britânica pode deter e questionar qualquer pessoa para verificar se ela é ou não um “terrorista”. Para Harrison e outros ativistas, a detenção de Miranda mostra que Londres definitivamente considera relatos sobre segurança nacional como um ato de terrorismo.
“O problema é que agora ela faz parte dessa rede de suspeitos”, disse Zimmermann. “É provável que ela seja alvo do mesmo tipo de acusações sem sentido assim que pisar no país”, continuou. “De certa forma, até que as coisas mudem, ela deve permanecer no exílio, assim como Snowden, Greenwall, Poitras e Appelbaum.”


     

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